Amor verde

23/11/2012 12:09

 

Qualquer coisa podia ser vermelho, amarelo, cinza ou uma outra cor qualquer. Mas nada podia ser tão vivido, tão cativante quanto o seu verde. Não era como uma grama tão bem cuidada por uma senhora aposentada, nem como o mar de resaca no final de uma tarde de domingo. Era um verde tão seu que por mais que eu o amasse já mais teria coragem de pegar-lhe para mim, pois, qualquer pessoa no mundo saberia que não são os tons do seu verde mas sim você.

Acho que jamais me esquecerei do dia em que fomos padrinhos daquele seu amigo e nos pediram para que meu vestido fosse da cor da sua gravata. É claro que eu escolhi a cor verde. Fui a rua com semanas de antecedência, queria garantir que tudo saísse impecável, afinal, essa seria a oportunidade perfeita para você me apresentar como sua namorada. Aluguei o vestido mais bonito e caro que meu dinheiro podia pagar e sonhei por três semanas em como nós ficaríamos lindos juntos. E finalmente chegou o grande dia, escutei o barulho silencioso do seu carro, caminhei um pouco rápido de mais para abrir a porta. Você estava sem a gravata verde. Não consegui entender a sua expressão ao ver meus olhos decepcionados, na verdade, eu mal te vi naqueles segundos de ira. Eu só pensava em como você pode vir sem a grava. Eu deixei mil lembretes, te liguei cinco vezes, expliquei como a gravata era vital para que as pessoas visem como nós éramos perfeitos um para o outro. E tudo que você fez foi rir e dizer “tudo bem amor, eu tenho lindos olhos verdes.” Não consegui ficar brava com você, mas usei meus anos de pratica para fingir que não queria papo. Como foi difícil te tratar mal, recusar o seu beijo e só resmungar a caminho do casamento, enquanto na verdade o que eu queria mesmo era te encher de beijo e dizer o quanto você estava lindo mesmo sem a aquela gravata. No fim das contas você tinha razão, enquanto todos os padrinhos comentavam sobre o vestido combinando com uma linda gravata qualquer, eu me gabava pela nossa sintonia perfeita. Meu tão caro vestido com os seus apaixonados e vidrados olhos verdes.

Você me mandava flores eletrônicas, frases mundialmente conhecidas e no fim sempre assinava “do seu amor eterno”. Aquilo era tão previsível e nada encantador aos olhos de um descrente. Mas eu era uma iludida apaixonada, e como qualquer outra mulher no mundo achava aquelas frases shakespearianas tão escritas para nós. Chegou um momento em que eu não precisava mais que você me fizesse feliz, não queria te ver o tempo todo e nem pensava em você o dia inteiro. As coisas ficaram confusas. Eu não te amava mais? Mas e tudo que passamos juntos? Os momentos, as brigas, a saudade, a curta distancia longa... era tudo uma ilusão?. Pedi um tempo. Senti uma saudade desesperadora, me doía e queimava o corpo pensar que você poderia ter um outro alguém. Voltei. E depois de longas conversas e noites em claro pensando sobre mim, descobri que não foi o amor que se acabará, mas sim a paixão. Eu não dependia mais de flores, beijos e de te ter a cada segundo para ser feliz. Agora eu só precisava saber que você estava bem, eu queria antes de qualquer coisa no mundo fazer-lhe feliz. Eu te fazia sorrir o tempo todo porque seu sorriso era quase tão encantador quantos seus olhos. A única diferença era que em seus olhos eu sempre pude ver um pedacinho da minha alma que se cansou de viver em mim e foi cuidar de você. E as vezes no fim da noite quando nos olhávamos tentando entender o que aconteceu com a gente, eu podia sentir a parte da sua alma que fica tão bem guardada em mim. 

 

Hanna de Rezende